Crescer em mais um bairro marginalizado do tão glorioso estado de São Paulo não é fácil, especialmente se você, como eu, demorou para notar o que isso realmente significava. Mais precisamente, levei 17 anos para buscar o verdadeiro significado de estar aonde eu estava. Porém, não foi por vontade própria, precisei ser chacoalhada pelos meus professores e minha vida recomeçou ali.
Meus olhos se abriram quando a professora de matemática usou a frase "não meche com esses meninos, eles são perigosos" ao se referir ao momento da aula em que eu havia pedido que eles parassem de atrapalhar a explicação e um deles se revoltou comigo. Ela continuou dizendo "não estou falando pra você ter medo, imagina! Mas toma cuidado, vai que um deles surta e te ataca..." Tudo isso porque eu queria ouvir a explicação da aula.
A partir daí as coisas passaram a fazer sentido. O comportamento das pessoas ao meu redor, as notas dos alunos, a situação de calamidade da escola, os relacionamentos dos meus amigos... tudo se encaixava. Desse episódio em diante eu me senti silenciada, como se me dissessem "você não deve ter medo, mas olhe por onde anda (... se segure, se controle, se limite)". Perdemos o direito de ir longe porque alguns vão longe demais, é como se nossa liberdade fosse simplesmente roubada. E, somente ao entender isso, fui capaz de entender minha realidade.
São novos tempos, mas a guerra é a mesma. Seguimos lutando pela nossa sobrevivência e, muitas vezes, o caímos no "cada um por si" e esquecemos que não há "eu" se não houver "nós". Com isso dito, eu te peço: não se cale. Eu sei que o mundo é muito mais difícil de se encarar do que nós pensávamos, mas nossa vida é tudo o que temos até que nós tomemos a decisão de conquistar mais. Então vá, conquiste o mundo, mude o seu mundo e não se permita ser mais um escravo das circunstâncias.
P.S.: tô de volta!!
- S
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